Salve galera.
Existem algumas HQs que acabam se destacando mais pelo seu
roteiro do que pelos desenhos, como Cavaleiro das Trevas e Arma-X. Outras de
destacam mais pelo desenho do que pelo roteiro, como Marvels e Reino do Amanhã,
trabalhos perfeitos de Alex Ross.
Mas não pensem que não gostei dos traços de Frank Miller em
Cavaleiro das Trevas ou de Barry Windor-Smith em Arma-X; ou do roteiro de Kurt
Busiek em Marvels ou de Mark Waid em Reino do Amanhã. O que acontece que estas
histórias chamaram muito mais a atenção pelo roteiro ou pelo desenho.
Porém, existem algumas histórias em que a combinação
roteiro/desenho está perfeita. São poucas, mas quando surgem, criam obras
inigualáveis no mundo dos quadrinhos.
É o caso da graphic novel Ás Inimigo – Um Poema de Guerra,
de George Pratt, publicada em 1990 nos Estados Unidos pela DC Comics e em 1995
no Brasil pela Editora Abril.
Para quem não sabe, Ás Inimigo é um personagem criado por
Joe Kubert e Robert Kanigher em 1965. Ele é o piloto Hans von Hammer, que lutou
durante a I Guerra Mundial e a II Guerra Mundial pelo exercito alemão. Durante
as guerras, ele ficou conhecido como O Martelo do Inferno (The Hammer of Hell,
trocadilho com seu nome em inglês).
Von Hammer chegou a aparecer em algumas outras histórias da
DC, como na saga Armageddon Inferno.
O personagem é inspirado em Manfred von Richthofen, piloto
alemão da I Guerra Mundial, mundialmente conhecido como O Barão Vermelho.
A história de George Pratt mostra um von Hammer já
debilitado concedendo uma entrevista ao repórter e ex-fuzileiro americano
Edward Mannock. Na verdade, o americano está em busca de ajuda para tentar se
livrar dos fantasmas que o perseguem desde que ele voltou da Guerra do Vietnã.
O roteiro mostra as cicatrizes que os dois soldados carregam
e como eles descobrem que não importa em qual lado você está em uma guerra,
todos são perdedores. E como cada homem que pisa em um campo de batalha nunca
conseguirá tirar a guerra de sua lembrança e por causa disso ele sempre será um
soldado. Não lutando contra seus inimigos, mas sim contra suas próprias
memórias. Na Graphic Novel, von Hammer consegue viver com suas lembranças, com
seus fantasmas; Mannock não.
George Pratt soube trabalhar muito bem o aspecto humano da
relação que os solados tem com a guerra e como alguns são consumidos por ela. E
este aspecto humano da história pode ser destacado em duas passagens: quando
von Hammer conforta um soldado inglês que está cego e a beira da morte devido a
um ataque de gás; e quando os soldados britânicos e alemães simplesmente fazem
uma trégua para comemorar o Natal.
Por sinal, existem registros que este tipo de
confraternização realmente aconteceu durante a I Guerra Mundial no Natal de
1914 e 1915 e na Páscoa de 1916.
Agora o desenho de George Pratt não pode ser chamado de
ilustração. Aquilo é uma obra de arte. Seu trabalho torna a história viva e
cada quadro é uma experiência única para os olhos. Não é a toa que obras Pratt
estão expostas em vários museus dos Estados Unidos.
Também tenho que dar os parabéns para Editora Abril, que
publicou Ás Inimigo – Um Poema de Guerra em 1995. Não sei como foi a edição
americana publicada em 1990, mas a brasileira é uma das melhores que já vi na
vida. A graphic novel veio com uma capa plástica, que protegia a edição. E com
um marcador de página com um desenho de Pratt. A revista inteira foi feita com
papel plastificado, de densidade maior do que a que era usada normalmente nas
HQs ou mesmo em edições especiais. Uma verdadeira edição de colecionador.
Se você achar um exemplar de Ás Inimigo em bom estado no seu
sebo favorito, não pense duas vezes. É uma edição única, que pode ser colocada
na sua prateleira de livros e não no seu armário de HQs.
E não precisa se preocupar comigo: a minha edição está muito
bem guardada.
PUBLICADO ORIGINALMENTE NO SITE GEEZBOX (WWW.GEEZBOX.COM.BR) EM SETEMBRO DE 2012
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