sábado, 26 de julho de 2014

O CAVALEIRO DAS TREVAS

Quando surge a notícia de que um personagem de história em quadrinhos vai virar filme, podemos notar duas reações básicas nas pessoas.

A primeira é de total antipatia pelo personagem e pelo filme, definida pela clássica frase: filme de HQ é coisa para criança.

A segunda reação é a de expectativa positiva. Essa reação pode vir de quem é fã ou não do personagem. Os fãs esperam ver seu herói em carne e osso. Os não fãs querem apenas um bom entretenimento por algumas horas.

Mas este não é o caso de CAVALEIRO DAS TREVAS.
Sim, ele é um filme sobre quadrinhos. Mas ele alguns assuntos tratados no filme merecem um destaque. Porque o filme não envolve apenas HQs. Envolve muito da essência do ser humano.

Primeiro, temos que dar destaque a Heath Ledger. Eu achava difícil alguém fazer um Coringa melhor do que Jack Nicholson fez no BATMAN de Tim Burton. 

Mas eu tenho que tirar o chapéu para Heath. Seu Coringa é perfeito. Um espelho distorcido da sanidade humana. Ou um reflexo puro da insanidade. Para ele, não há limites, não há barreiras que não possam ser quebradas. Sua única motivação é mostrar sua verdade distorcida: que toda pessoa tem uma lado negro preste a ser liberado. E ele quer liberar esse lado de toda a população de Gotham.

Sobre o ator, foi uma pena sua morte. Ele mostrou toda a sua competência no papel. Duvido que outra pessoa pudesse fazer um Coringa caótico como ele fez. Como disse, achava impossível alguém fazer o personagem melhor do que Nicholson fez. Mas ele fez e digo que ele até superou. Tanto que o Oscar que ele recebeu é mais do que merecido.

Por sinal, esta é uma tradição na história do Batman: o Coringa sempre rouba a cena do Homem Morcego. Cesar Romero na série da década de 60, Nicholson em 89 e recentemente Ledger.

Para se preparar para o Coringa, Heath Ledger viveu sozinho em um hotel por um mês, desenvolvendo o lado psicológico, a postura e a voz do personagem. Ledger iniciou um diário, onde escrevia os pensamentos do Coringa e os sentimentos que o guiavam durante sua performance. E atingiu algo que acreditava impossível: uma mente pervertida e distorcida que o personagem tem.

Em parte, eu concordo com o Coringa. Acredito que todos têm um lado negro. Mas preferem deixar escondido, quieto. Muitas pessoas deixam esse lado adormecido, fazendo algo que o satisfaça, como praticar esportes, beber, usar drogas, sexo ou qualquer coisa que crie uma sensação de prazer que não é fornecida pela vida cotidiana. Alguns chegam a pontos mais extremos para satisfazer esse lado. O problema é quando esse lado se solta no dia a dia. 

Muitas pessoas acabam perdendo a paciência e soltando esse lado por motivos bobos. E nesse momento é que acontecem coisas como morte no transito, mulheres espancadas, crianças abusadas e coisas bem piores.

Ele é o agente do Caos em um mundo a beira do colapso. Não poderia imaginar uma figura mais forte do que ele para mostrar o quanto nós estamos pertos de quebrar as barreiras da civilidade.

Outros pontos bem abordados no filme são a ética e a moral. Muitos personagens mostrados no filme, pessoas que deveriam ser de confiança, se mostram falsas. Sua ética e moral se mostram disponíveis pelo maior preço. Mas isso não deve ser de espanto para nós, afinal vivemos em um país onde a corrupção e violência são noticias comuns nos jornais.

Por fim, acho que o melhor tema do filme é o sacrifício. Muitas pessoas sabem o quanto dói ter que fazer um sacrifício por uma pessoa. Mas depois esse sacrifício sempre se mostra compensador. Acredito nisso. Se temos que fazer uma escolha e ela nos obriga a fazer um sacrifício, que se tome a decisão rapidamente e que se aceite suas conseqüências. Se adiarmos a decisão, acabamos ficando com medo e tomamos a decisão errada e covarde. No filme, quando Batman tem que tomar uma decisão, ele não para e pensa: apenas toma. Analisa as possibilidades e aceita elas. Particularmente, eu adorei essa cena do filme.

Bom, nem preciso dizer que recomendo o filme. CAVALEIRO DAS TREVAS não é apenas um filme de super-herói. É um filme sobre o ser humano. E as decisões que temos que tomar diariamente.

Todos precisam assistir e pensar sobre ele.

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO SITE POLTRONA DE CINEMA (WWW.POLTRONADECINEMA.WORDPRESS.COM) EM DEZEMBRO DE 2010

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