Quando surge a notícia de que um personagem de história em
quadrinhos vai virar filme, podemos notar duas reações básicas nas pessoas.
A primeira é de total antipatia pelo personagem e pelo
filme, definida pela clássica frase: filme de HQ é coisa para criança.
A segunda reação é a de expectativa positiva. Essa reação
pode vir de quem é fã ou não do personagem. Os fãs esperam ver seu herói em
carne e osso. Os não fãs querem apenas um bom entretenimento por algumas horas.
Mas este não é o caso de CAVALEIRO DAS TREVAS.
Sim, ele é um filme sobre quadrinhos. Mas ele alguns assuntos tratados no filme merecem um destaque. Porque o filme não envolve apenas HQs. Envolve muito da essência do ser humano.
Sim, ele é um filme sobre quadrinhos. Mas ele alguns assuntos tratados no filme merecem um destaque. Porque o filme não envolve apenas HQs. Envolve muito da essência do ser humano.
Primeiro, temos que dar destaque a Heath Ledger. Eu achava
difícil alguém fazer um Coringa melhor do que Jack Nicholson fez no BATMAN de
Tim Burton.
Mas eu tenho que tirar o chapéu para Heath. Seu Coringa é perfeito.
Um espelho distorcido da sanidade humana. Ou um reflexo puro da insanidade.
Para ele, não há limites, não há barreiras que não possam ser quebradas. Sua
única motivação é mostrar sua verdade distorcida: que toda pessoa tem uma lado
negro preste a ser liberado. E ele quer liberar esse lado de toda a população
de Gotham.
Sobre o ator, foi uma pena sua morte. Ele mostrou toda a sua
competência no papel. Duvido que outra pessoa pudesse fazer um Coringa caótico
como ele fez. Como disse, achava impossível alguém fazer o personagem melhor do
que Nicholson fez. Mas ele fez e digo que ele até superou. Tanto que o Oscar
que ele recebeu é mais do que merecido.
Por sinal, esta é uma tradição na história do Batman: o
Coringa sempre rouba a cena do Homem Morcego. Cesar Romero na série da década
de 60, Nicholson em 89 e recentemente Ledger.
Para se preparar para o Coringa, Heath Ledger viveu sozinho
em um hotel por um mês, desenvolvendo o lado psicológico, a postura e a voz do
personagem. Ledger iniciou um diário, onde escrevia os pensamentos do Coringa e
os sentimentos que o guiavam durante sua performance. E atingiu algo que
acreditava impossível: uma mente pervertida e distorcida que o personagem tem.
Em parte, eu concordo com o Coringa. Acredito que todos têm
um lado negro. Mas preferem deixar escondido, quieto. Muitas pessoas deixam
esse lado adormecido, fazendo algo que o satisfaça, como praticar esportes,
beber, usar drogas, sexo ou qualquer coisa que crie uma sensação de prazer que
não é fornecida pela vida cotidiana. Alguns chegam a pontos mais extremos para
satisfazer esse lado. O problema é quando esse lado se solta no dia a dia.
Muitas pessoas acabam perdendo a paciência e soltando esse lado por motivos
bobos. E nesse momento é que acontecem coisas como morte no transito, mulheres
espancadas, crianças abusadas e coisas bem piores.
Ele é o agente do Caos em um mundo a beira do colapso. Não
poderia imaginar uma figura mais forte do que ele para mostrar o quanto nós
estamos pertos de quebrar as barreiras da civilidade.
Outros pontos bem abordados no filme são a ética e a moral.
Muitos personagens mostrados no filme, pessoas que deveriam ser de confiança,
se mostram falsas. Sua ética e moral se mostram disponíveis pelo maior preço.
Mas isso não deve ser de espanto para nós, afinal vivemos em um país onde a
corrupção e violência são noticias comuns nos jornais.
Por fim, acho que o melhor tema do filme é o sacrifício.
Muitas pessoas sabem o quanto dói ter que fazer um sacrifício por uma pessoa.
Mas depois esse sacrifício sempre se mostra compensador. Acredito nisso. Se
temos que fazer uma escolha e ela nos obriga a fazer um sacrifício, que se tome
a decisão rapidamente e que se aceite suas conseqüências. Se adiarmos a
decisão, acabamos ficando com medo e tomamos a decisão errada e covarde. No
filme, quando Batman tem que tomar uma decisão, ele não para e pensa: apenas
toma. Analisa as possibilidades e aceita elas. Particularmente, eu adorei essa
cena do filme.
Bom, nem preciso dizer que recomendo o filme. CAVALEIRO DAS
TREVAS não é apenas um filme de super-herói. É um filme sobre o ser humano. E
as decisões que temos que tomar diariamente.
Todos precisam assistir e pensar sobre ele.
PUBLICADO ORIGINALMENTE NO SITE POLTRONA DE CINEMA (WWW.POLTRONADECINEMA.WORDPRESS.COM) EM DEZEMBRO DE 2010
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