sábado, 26 de julho de 2014

A PRIMEIRA GUERRAS SECRETAS

Salve galera.

Quem lê quadrinhos há mais de 30 anos (e eu me incluo nessa lista), sabe que a saga Guerras Secretas, publicada nos EUA em 1985, foi um marco nas HQs. Afinal, pela primeira vez na história, os principais personagens da Marvel se encontravam e lutavam lado a lado.
Hoje não é mais novidade no mundo dos HQs uma saga onde todos os personagens principais da editora se juntam para enfrentar uma crise ou um vilão extremamente poderoso.

Mas temos que pensar que em 1985 não havia essa idéia de juntar todos os personagens de uma editora em apenas uma única saga, dividida em 12 partes. Então “Guerras Secretas” foi um conceito inédito na época e coube ao roteirista Jim Shooter e aos desenhistas Mike Zeck e Bob Layton tornar esse projeto tão ambicioso real.

O que mais chama a atenção de “Guerras Secretas” foi que a ideia da saga não surgiu da Marvel. Foi da Mattel, que queria lançar uma nova linha de brinquedos baseados nos personagens da editora. E a “Casa das Idéias” resolveu aceitar um pedido antigo dos fãs: de lançar uma saga envolvendo seus principais personagens, para poder colocar em prática a vontade da Mattel.

O enredo foi o mais simples possível: uma entidade cósmica chamada Beyonder reúne os heróis e os vilões da Terra com um simples objetivo: se enfrentarem até sobrar somente um lado. Aos vencedores, Beyonder promete realizar todos os seus desejos. Todos foram levados para um planeta no outro lado do Universo criado por Beyonder. Assim, não se corria o risco de matar inocentes ou fugas.

No planeta, Beyonder construiu fortalezas com armas e veículos para ambos os lados, além de criar uma raça alienígena, uma fauna e uma flora única. Porém, além dos participantes da guerra, a cidade de Denver acabou sendo teleportada para o planeta.

Pelo lado dos heróis, foram convocados: os Vingadores Capitão América, Capitã Marvel,Gavião Arqueiro, Homem de Ferro, Mulher Hulk, Thor e Vespa; do Quarteto Fantástico foram O Coisa, Tocha Humana e o Senhor Fantástico; os X-Men Colossus, Ciclopes,Noturno, Professor X, Vampira, Tempestade e Wolverine; além do Homem-Aranha, o Hulk e Magneto. E durante a Guerra apareceu a Mulher-Aranha, que estava em Denver.
E para enfrentar esse time de heróis, foram levados por Beyonder: O Homem Absorvente,Dr. Destino, Dr. Octopus, Encantor, Kang, Lagarto, Homem Molecular, Ultron, Galactus, Garra Sônica e a Gangue da Demolição: Aríete, Bate-Estaca, Destruidor e Maça. Além deles, o Dr. Destino criou Vulcana e Titânia, que eram apenas duas jovens ambiciosas de Denver que aceitaram ser submetidas a um tratamento para ganhar super poderes, desde que lutassem ao lado dos vilões.

Dois personagens acabaram se destacando em seus grupos, não por suas atitudes, mas sim por estarem deslocados: Magneto no lado dos heróis e Galactus nos vilões. Magneto não foi bem aceito, principalmente pelo Capitão América. Tanto que, durante a saga, ele e os X-Men resolvem deixar o grupo de heróis e começam a lutar sozinhos.

Já Galactus não pode ser considerado um vilão, já que ele é uma entidade cósmica e está acima de qualquer definição de BEM ou MAL que possa existir dentro do Universo Marvel. Sendo assim, ele prefere ficar sozinho do que ao lado dos vilões.

Outro personagem que também chamou a atenção foi o Homem de Ferro. Na época das Guerras Secretas, Tony Stark tinha perdido sua empresa e estava entregue à bebida. E o Vingador Dourado na saga é Jim Rhodes, que acabou herdando a armadura dourada depois do retorno de Stark e que, mais para frente, assumiria a armadura Máquina de Combate.

Mais um detalhe que não passa batido na história é que durante a Guerra, o Hulk não era a criatura bestial que todos conhecem: nessa época, Bruce Banner estava no controle do Gigante Esmeralda. O que foi muito bom para os heróis, afinal ter a força do Hulk e o cérebro de Banner em uma guerra é uma vantagem considerável.

Algumas mudanças importantes aconteceram após a Guerra. Uma foi a saída d’O Coisa do Quarteto, sendo substituído pela Mulher Hulk; outra foi a aparição do dragão Lockheed, que se tornaria o mascote da Lince Negra nos X-Men; Titânia se uniu ao Homem Absorvente como parceiros no crime; e Vulcana acabou se apaixonando pelo Homem Molecular e ambos decidiram esquecer o passado para viver no anonimato.

Mas a mudança mais importante para o Universo Marvel foi o surgimento do uniforme negro do Homem-Aranha, que mais tarde se mostraria um simbionte alienígena, que se juntaria a Eddie Brock e se tornaria Venom.
Voltando a falar da trama: a história foi muito boa. Lógico que se comparada a outras histórias de hoje pode até ser chamada de fraca, mas novamente vale lembrar que estamos em 1985 e foi o primeiro grande encontro de heróis. 

É claro que alguns ficaram apagados dentre outros. Wolverine e o Coisa são exemplos de personagens que pouco apareceram. Quem se destacou mesmo foram Reed Richards e Capitão América como líderes dos heróis; Magneto por se rebelar e formar seu grupo de mutantes ao lado de Xavier e dos X-Men; e Galactus, que percebeu que a luta pelo poder não lhe era interessante, mas viu a chance de Beyonder acabar com sua fome cósmica e acabou por resolver enfrentar a entidade e não os heróis.

No final, a vitória dos heróis pode até ser considerada óbvia. Mas não da maneira que foi: Dr. Destino resolve enfrentar Galactus e absorve seu poder. Então ele consegue derrotar Beyonder para depois ser traído pelo Garra Sônica (que estava sendo controlado por Beyonder) e derrotado pelos heróis.

Também vale destacar que durante um pequeno período de tempo, o Dr. Destino teve o poder de Beyonder. Ele planejava ir ao Inferno lutar contra Mefisto e libertar a alma de sua mãe. E enquanto teve este poder, ele mostrou ao Homem Molecular a verdadeira extensão de seu poder: que ele era o segundo homem mais poderoso do Universo.

No Brasil, a saga foi publicada pela primeira vez em 1986. O mais bizarro foi que alguns personagens foram descartados da história pela Abril Jovem. Isso porque, quando foi publicada, a cronologia dos personagens da Marvel no Brasil estava muito defasada em relação aos EUA e alguns personagens sequer tinham sido apresentados ao público brasileiro, como a Vampira.

A publicação de “Guerras Secretas” tão fora de época aqui no Brasil também se deu devido a pressão da Gulliver, que pretendia lançar logo a linha de brinquedos no país.

A saída foi apagar estes personagens da história e “adaptar” o final, para que fizesse sentido com o que estava sendo publicado na época.
Após essa edição “resumida e mutilada”, “Guerras” ainda foi republicada mais duas vezes pela Abril: em uma versão resumida dentro da revista do Capitão América e a saga completa na revista “A Teia do Aranha” em 1995. E somente em 2007 a Panini lançou uma versão encadernada no formato americano.
O mais legal mesmo de “Guerras Secretas”, tanto no Brasil quanto no EUA, foi a linha de brinquedos, que por aqui foi lançada pela Gulliver. Foi a primeira linha de brinquedos baseados em HQs que chegou ao país com forte campanha de marketing (inclusive com propagandas na TV e revistas) e fez muito sucesso com as crianças. Eram os mesmos brinquedos lançados pela Mattel, mas por aqui foram lançados apenas 6 heróis e 4 vilões. Também foram trazidos os Turbo-Cycles (uma espécie de moto com sidecar) e os castelos do Homem-Aranha e Dr. Destino. Apesar de ser a mesma linha da Mattel, alguns personagens e veículos nunca chegaram por aqui, como os Turbo-Copteros ou as Torres de Combate.
Detalhe: eu sempre achei estranho ter o Demolidor na linha lançada no Brasil e não ter o Thor, mas depois que descobri que nos EUA tinha os bonecos do Falcão Negro, Dr. Estranho, Homem de Gelo, Duende Macabro, Barão Nemo, Electro e Constritor, não me espantei mais.

Enfim, se você achar “As Guerras Secretas” no sebo mais próximo, pode ir em frente e comprar. E se você encontrar os brinquedos para vender, me avise.

Até porque eu nunca mais achei meu Homem-Aranha com uniforme negro depois que mudei de casa.

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO SITE GEEZBOX (WWW.GEEZBOX.COM.BR) EM JULHO DE 2012

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