Salve galera.
Quem cresceu lendo HQs da Abril Jovem, na época em que ela
dominava o mercado de quadrinhos nacionais, vai se lembrar de como era difícil
acompanhar as histórias de seu herói favorito. Vale só uma ressalva galera:
estamos falando de um período entre o final da década de 80 e o começo do ano
2000, quando a internet não era tão acessível e rápida como hoje em dia e
revistas americanas só eram achadas nas bancas de aeroportos e na Devir em São
Paulo. E eram absurdamente caras.
Então ou se lia o que tinha em mão ou não se lia. Porque não
tínhamos acesso às revistas importadas, com sagas completas ou inéditas por
aqui. E o que tornava mais difícil ainda acompanhar as histórias era uma
tradição comum por aqui: histórias cortadas ou simplesmente puladas. Simples
assim. Você ficava a ver navios em várias sagas.
Sob certo ponto de vista, eu até que entendo algumas
decisões que eram tomadas naRedação Super-Herói (departamento da Abril que
cuidava das revistas da Marvel e DC nas décadas de 80, 90 e 2000).
Primeiro, porque no Brasil foi adotado o formatinho
(13x21cm), diferente do formato americano (20x26cm). Então alguns diálogos
tinham que ser enxugados para caber dentro dos balões. Outro motivo para cortes
era o número de páginas: nossas revistas vinham com 80 páginas e as americanas
com 32 (sendo 22 de histórias e 10 de propaganda e editorias). Então algumas páginas que relembravam o final
da edição anterior na versão americana eram cortadas na versão brasileira, uma
vez que em algumas edições eram publicadas mais de uma história da mesma saga
do mesmo personagem. E por fim, a adaptação da época em que eram publicadas as
histórias.
Por exemplo, a saga Guerras Secretas, publicada no EUA em
1985 e quase que obrigada a ser publicada aqui em 1986, devido à pressão da
indústria de brinquedos, que pretendia lançar a coleção Guerra Secretas o mais
rápido possível. Quando foi publicada no Brasil pela primeira vez, vários
personagens que participaram da saga não haviam sidos introduzidos nas revistas
brasileiras, por causa da defasagem que havia por aqui em relação ao EUA. Tanto
que na capa do primeiro número de Guerra Secretas publicada por aqui nota-se a
falta de vários personagens que podem ser vistos na capa americana.
Outro exemplo de corte devido à defasagem cronológica foi em Marvel vs. DC. Muitos leitores acharam estranho o fato de Peter Parker dar em cima de Lois Lane, afinal, na época, ele já estava casado com Mary Jane Watson. O que acontece que aquele não era Peter Parker, mas sim o clone Ben Reiley, que achava que era o verdadeiro Peter Parker. Essa informação foi cortada porque no Brasil ainda não havia sido publicada a Saga dos Clones. Justo, não?
Outro exemplo de corte devido à defasagem cronológica foi em Marvel vs. DC. Muitos leitores acharam estranho o fato de Peter Parker dar em cima de Lois Lane, afinal, na época, ele já estava casado com Mary Jane Watson. O que acontece que aquele não era Peter Parker, mas sim o clone Ben Reiley, que achava que era o verdadeiro Peter Parker. Essa informação foi cortada porque no Brasil ainda não havia sido publicada a Saga dos Clones. Justo, não?
Já para adaptar o tamanho das histórias dentro do número de
páginas, o bom exemplo é Amanhecer Esmeralda. Cerca de duas páginas do
treinamento de Hal Jordan com Kilowog foram encaixadas dentro de apenas uma
página.
Agora o problema mesmo é quando os cortes não tem muita
explicação. Aí a Abril Jovem era campeã.
Em Armageddon 2001, algumas das histórias foram 100%
cortadas. Não chegaram a ser publicadas por aqui qual foi o futuro que Tempus
viu do Flash ou do Gavião Negro. Não que estas histórias fossem boas, mas elas
simplesmente foram deixadas de lado. Tanto que quando Tempus visita a Liga da
Justiça, ele não vê o futuro do Flash porque ele já tinha visto. Tanto que
quando ele fala isso para o Flash, este não aceita bem o fato de seu futuro ter
sido explorado sem sua autorização. Mas aqui no Brasil, isso nunca foi bem
explicado.
Quem também teve suas histórias dilaceradas foi Ravage, personagem do universo Marvel 2099. Por ser um o único personagem original deste universo e ter sido criado por Stan Lee, admito que estava ansioso para ler suas histórias. Mas aqui no Brasil foi totalmente impossível acompanha-lo. Ele teve sua primeira história contada em uma das primeiras edições de Homem Aranha 2099. Foi mostrada sua origem e como ele foi traído e aí o personagem sumiu.
Quem também teve suas histórias dilaceradas foi Ravage, personagem do universo Marvel 2099. Por ser um o único personagem original deste universo e ter sido criado por Stan Lee, admito que estava ansioso para ler suas histórias. Mas aqui no Brasil foi totalmente impossível acompanha-lo. Ele teve sua primeira história contada em uma das primeiras edições de Homem Aranha 2099. Foi mostrada sua origem e como ele foi traído e aí o personagem sumiu.
Ficou sem aparecer até a saga A Volta dos Deuses, onde ele
lutou ao lado de Destino, Homem Aranha e Justiceiro contra os falsos deuses
criados pela Alchemax. Depois disso o personagem novamente some. E depois não
aparece mais. Sumiu. Ninguém sabe, ninguém viu.
Agora o melhor corte de todos foi em X-Men. Uma época
inteira foi pulada, para dar uma acelerada nas nossas revistas, visando assim
diminuir a defasagem com as americanas. Então muitas coisas simplesmente foram
esquecidas.
O engraçado foi que algumas dessas histórias tiveram
consequências futuras, então a Abril Jovem teve que se virar para explicar.
Por exemplo, em 1995 quando foi publicada a série X-Men,
escrita por Chris Claremont e desenha por Jim Lee, a Abril Jovem simplesmente
colocou um aviso enquanto Magneto contava uma história sobre seu passado: UM
DIA A GENTE CONTA ESSA HISTÓRIA.
E não fizeram isso apenas uma vez. Fizeram duas vezes na
mesma revista. E faltou bem pouco para ser na mesma página.
E sabe quando foi publicada essa história?
Bom, se você souber me avise, porque eu acho que perdi essa
edição.
PUBLICADO ORIGINALMENTE NO SITE GEEZBOX (WWW.GEEZBOX.COM.BR) EM JUNHO DE 2012
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